Pinte-me!

Pinte-me como queira... Sou sua boneca amor, meiga e delicada, sou a gueixa que te leva café na cama e não pede nada. Eu gosto de cor-de-rosa sim, lilás, fadas e borboletas, mas cansei dessa doçura toda, de rosas letras e água com açúcar. Cansei de leveza e sutileza, amor. Por favor, leve para cama ou para mesa algo forte. Café amargo, vinho tinto, quero o azedo, o ácido também.
Pinte-me devassa, eu quero ser tudo, antes que alguém me faça. Faz você, faz em mim. Dê-me todos os gostos e prazeres, toda vontade, dor, desejos, quero sentir medo, quero sentir tudo. Sei que estarás do meu lado, porque sou todas, sou o mundo. Porque haverias de querer pintar outra? Eu também não quero outras mãos em meu rosto, lábios, curvas. Quero que tu me descubras, os mínimos detalhes, até minhas rugas. E que me ame toda, e todas outras que habitam em mim.
Pinte-me toda, decore-me para ti, brinque comigo, só não me pinte de palhaça, pois essa mulher não habita em mim, e se ela surgir meu bem, creia, será teu fim.

Carolina Salcides